O historiador Moses I. Finley (1912-1986) foi um importante pesquisador voltado aos estudos de História Antiga Greco-Romana dando um novo olhar para a antiguidade.
Em sua obra clássica
“Democracia Antiga e Moderna” aborda e compara os fundamentos da democracia tanto
no aspecto clássico quanto contemporâneo tomando como base a democracia que
teve sua origem na Grécia antiga – precisamente na Cidade-Estado de Atenas nos
séculos V e VI a.C.
O próprio autor menciona que propõe desenvolver um discurso dialético
entre as concepções da Grécia antiga e as modernas, dentro dos limites em que é
possível discutir-se dois mundos tão radicalmente diferentes.
Um destaque
histórico importante, e observado por este autor está no fato que na Grécia
Antiga nem todos tinham os mesmos privilégios, uma vez que parte daquela
sociedade ficava a margem pelo fato de não serem considerados cidadãos, isto é,
não participavam das assembleias.
Por exemplo,
eram considerados cidadãos homens livres de pai e mãe ateniense. No grupo dos
excluídos da atividade política estavam as mulheres, escravos e estrangeiros.
O autor explica que
para se destacar durante a Assembleia, o cidadão ao pedir a palavra, para ter êxito
deveria dominar a arte da oratória e retórica (discurso expositivo e argumentação/convencimento)
para que os participantes aceitassem a proposta exposta e defendida.
Contudo, o autor
explica que demagogos articulados a certos interesses poderiam influenciar os presentes
beneficiando um determinado grupo. Finley analisa que o surgimento de facções é
considerado um perigo a democracia.
Finley constata
uma problematização no berço da democracia Ateniense, pois verificou que na
visão de alguns filósofos, dentre eles Platão (defendia que a política deveria
ficar na mão de especialistas/políticos profissionais), isto é, para este filósofo
à iniciativa popular era desastrosa e que governo do povo, pelo povo e para o
povo é uma ingênua ideologia.
De acordo com
Finley, em sua República, Platão propôs concentrar o poder nas mãos se uma pequena
classe seleta, estudada adequadamente, em outras palavras, especialistas
adequados, livre de todos os interesses especiais até mesmo da propriedade
privada e família para que levassem o Estado a atingir suas metas apropriadas.
Como contraponto,
em relação aos aspectos da democracia ateniense e do mundo contemporâneo, compreende
que o fundamento da democracia está na participação direta, sem mediação, pois
somente assim o cidadão se percebe inteiramente como um sujeito político.
Na Atenas Clássica,
a sociedade e o governo eram considerados uma única instituição, ou seja, era
direta pelo fato dos cidadãos terem o direito de decisão, diferente da
democracia contemporânea em que os eleitos representam quem eles querem, ou
seja, um formato no qual o povo transfere o poder de decisão.
Enfim, essa forma de democracia separa a população do governo que assumi
uma condição superior, por isso, Finley ao considerar o modelo contemporâneo compreende
que não pode ser chamado de democracia, pois cabe ao Estado ficar afastado das
classes ou de outros interesses facciosos. Ao Estado cabe os objetivos devem
ser morais, atemporais e universais.