Conteúdos Educacionais “Meu papel no mundo não é só o que de quem constata o que ocorre, mas também o que intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da cultura e da política, constato não para me adaptar, mas para mudar”. Paulo Freire
domingo, 4 de março de 2012
A Era do Gelo - Deriva dos Continentes: PANGEA
As ideias sobre a forma e a estrutura da Terra, desde a antiguidade, evoluíram muito devido ao aperfeiçoamento da navegação e dos conhecimentos científicos.
A substituição do conhecimento obtido por meio de conjeturas e tradições pelo que se origina da curiosidade, observação e experimentação, representam uma revolução na concepção do mundo.
No século passado, a teoria do cientista alemão Alfred Lothar Wegener, baseava-se na Pangéia, e por muito tempo sendo vista como fantasiosa, sendo mencionada apenas nos cursos de geologia.
Segundo Alfred, os continentes atuais teriam outrora constituído um grande e único continente, do qual se originaram posteriormente os atuais continentes, deslizando e flutuando sobre o globo terrestre em todas as direções. Porém, não havia muita convicção na teoria de Alfred. A hipótese era tratada como algo sem comprovação científica dependendo da confirmação que possivelmente nunca seria obtida.
Tratava-se de medir alguns centímetros de diferenças por ano na largura do Oceano Atlântico. Hoje, com a tecnologia atual, é possível medir essa diferença utilizando-se satélites artificiais, com emprego de raio laser ou por alguns processos indiretos largamente empregados.
Nos dias atuais, seria quase que impossível por em dúvida a deriva dos continentes. O desenvolvimento dos recursos tecnológicos postos à disposição da ciência nos últimos anos, permitiu-nos a descoberta de processos e fenômenos extraordinários como, por exemplo, a inversão dos pólos magnéticos, o alargamento dos oceanos, a origem dos mais variados tipos de rochas, a estrutura interna da terra e muitos outros.
Desde os primórdios da civilização, o homem tenta entender a natureza dos fenômenos que o cerca e a descobrir leis que regem a dinâmica construtiva da estrutura e da conformação geográfica que hoje conhecemos, sabendo que há uma natureza submarina viva em conexão com a deriva, até então desconhecida para o homem.
Um ecossistema que, não dependendo da ação fotossintética da luz, demonstra a enorme versatilidade da natureza em explorar todos os recursos da Terra para manifestar sua criatividade que o homem põe em risco, de maneira contínua e crescente, por desconhecer as leis que regem o equilíbrio da natureza e por desprezar o papel que cada elemento vivo, (por pequeno ou oculto que seja) desempenha no funcionamento do mais complexo e integrado sistema jamais inventado que é a biosfera terrestre.
MAPA: TERRA BRASILIS
Muitos mapas da “Era dos Descobrimentos” carregam mensagens escondidas e se destacam pelo grande número de elementos pictóricos e simbólicos. Portanto, muitos historiadores têm tratado esses documentos não-verbais como fonte secundária, visto que registros arquivais continuam sendo considerados o material predominante para interpretar o passado. Nas últimas duas décadas surgiu uma visão diferente sobre mapas históricos segundo a qual mapas são vistos como construções socioculturais no contexto da época e sociedade em que foram produzidos. O fascínio pelos mapas está na leitura “entre as linhas de sua imagem” nas quais o historiador e o geógrafo podem encontrar ambivalências inerentes, agendas escondidas e visões de mundo contrastantes. No presente artigo, realizar-se-á uma breve interpretação do “texto” e contexto de um dos mapas históricos do Brasil mais fascinantes e icônicos, o chamado Terra Brasilis, que foi produzido na véspera da circunavegação de Fernão de Magalhães, em 1519. O mapa faz parte do Atlas Miller, uma coletânea de onze mapas em pergaminho que leva o nome do seu último dono, o francês Bénigne-Emanuel Clément Miller, cuja viúva o vendeu para a Biblioteca Nacional Francesa em 1897. O Atlas foi confeccionado pelos cartógrafos portugueses Pedro (pai) e Jorge Reinel (filho) que o cartógrafo oficial na corte portuguesa, Lopo Homem, contratou para “preparar urgentemente um atlas magnífico, registrando os descobrimentos portugueses”. Embora elaborado menos do que vinte anos depois da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, o Terra Brasilis já mostra mais do que cem referências espaciais, escritas perpendicularmente ao traçado da costa brasileira. Entre as localidades em letras vermelhas e marrons encontram-se rios, cabos e pontos marcantes na paisagem que os navegadores portugueses denominaram, na sua maioria, de acordo com as suas observações diretas (por exemplo, Terra da Pescarya ou Rio das Pedras) ou seu estado espiritual (nomes religiosos como Santo Agostinho ou São Roque).
No lado superior da esquerda encontra-se um cartouche (moldura ornamental) preenchido com um texto em latim que informa que a carta “é da região do Grande Brasil” cuja “gente selvagem e crudelíssima” é de cor “um tanto escura” e se alimenta de carne humana. Os índios usam, “de modo notável”, o arco e a flecha. Ainda há referências à fauna brasileira com os seus “papagaios multicores e outras inúmeras aves, feras monstruosas” e “muitos gêneros de macacos”. A árvore chamada de pau-brasil ocorre em grande quantidade e “é conveniente para tingir o vestuário com a cor de púrpura”. Essa descrição é ilustrada através de diversos desenhos que retratam as paisagens e cenas da vida nativa. No meio da floresta há três índios vestidos de saias e cocares feitos de penas coloridas (verde, azul e vermelho). Diretamente em baixo dessa cena aparecem quatro índios nus envolvidos no processo de preparação do pau-brasil, desde a queima do tronco e o corte da árvore com um machado até o carregamento dos pedaços para uma clareira. A parte ocidental do Brasil abunda com animais como papagaios (vermelho, azul e verde), macacos e outros quadrúpedes, entre eles uma criatura semelhante a um dragão. Emblemas da coroa portuguesa estão onipresentes. Há seis caravelas sob a vela da cruz cristã que “harmoniosamente estão equilibrando a composição da imagem”. No meio do Oceano Atlântico constam várias bandeiras portuguesas que acusam as ilhas de Fernando de Noronha, Martim Vaz, Trindade, Santa Helena e Ascensão como território português. Seguindo o padrão das cartas náuticas dos séculos XIV e XV (cartas portulano), o Terra Brasilis contém várias rosas dos ventos com 32 direções das quais partem linhas de rumo.
Não há muitas informações sobre a vida dos cartógrafos portugueses dos séculos XVI e XVII. Sobreviveram ainda menos os detalhes sobre como eles organizaram e atualizaram suas cartas. Os mapas não “surgiram do nada”, mas se basearam nos relatos de viagem dos navegadores e nas informações contidas em mapas mais antigos como, por exemplo, o Planisfério de Cantino (1502), que representava o Brasil literalmente como Terra dos Papagaios. Portanto, o que surpreende é que há uma “ausência total de mapas portugueses do tempo anterior a 1500”. Essa lacuna se deve à “política de silêncio” das coroas portuguesa e espanhola que censuravam qualquer tipo de informação que poderia pôr em risco o monopólio do seu comércio na África, na Índia e no Novo Mundo. Espanha e Portugal controlaram e centralizaram os conhecimentos geográficos e os saberes cartográficos através dos serviços hidrográficos da Casa da Contratación em Sevilha e da Casa da Índia em Lisboa. Cada país criou o seu “padrão real”, um mapa geral atualizado e padronizado que continha todas as informações que os capitães foram obrigados a fornecer logo depois de retornar das suas viagens. Essa política de silêncio resultou em um complexo enredo geopolítico com histórias de espionagem, traição, propostas sedutoras para melhorar o salário, contratações clandestinas, suborno, diplomacia e pirataria.
O Terra Brasilis foi confeccionado como presente de João III de Portugal para Francisco I da França, e não servia apenas como fontes de dados essenciais para a navegação, mas também como “objeto de desejo” para impressionar o potentado francês. Um brasão da coroa portuguesa indica que a região do Rio da Prata pertencia a Portugal e não à Espanha. Um índio que se apóia nos seus calcanhares, estica os seus braços em um gesto de veneração e vigia o estuário do rio.
Essa breve análise do Terra Brasilis está longe de ser completa e tinha como objetivo mostrar o potencial de mapas históricos como fontes documentais. Muitos mapas do tempo dos “Descobrimentos” são menos representações do espaço e mais espaços de representação que revelam detalhes sobre uma sociedade e como essa lidava com informações geográficas. Caravelas, bandeiras e imagens coloridas são muito mais do que meros desenhos: eles não apenas refletem, mas também criam visões de mundo. A interpretação desses mapas sempre está sujeita a especulações e requer paciência e o treinamento do olhar para realizar leituras “entre as linhas”. Através desta abordagem contextual, será possível pensar a cartografia como uma narrativa que relata histórias, eventos e pontos de vista essenciais para a compreensão das ações humanas no tempo e no espaço. Vale também perceber o início do desmatamento da costa brasileira.
Ainda sobre o mapa Terra Brasilis é possível que como presente apaziguou os ânimos entre os monarcas. Segundo minha pesquisa havia traficantes franceses que exploravam produtos na Colônia e teriam sido expulsos e atacados pelos portugueses. Como retaliação o monarca francês determinou o ataque aos navios portugueses. Por fim, o mapa Terra Brasilis, e ainda outros subornos foram dados ao monarca da França, a fim de reestabelecerem a harmonia.
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