A Geografia e a Música de acordo com Dozena (2016) são temas transversais à vida humana em suas múltiplas dimensões: sons, sentidos,
espacialidades, ritmos, fluxos, melodias, etc., que se constituem em diálogos
possíveis de práticas que enredam as experiências vividas espaço-sonoramente.
Logo, a partir da música, podemos
pensar em diversos locais que fazem parte do contexto dela, podemos pensar em
locais mais próximos ou mais distantes, mas que possuem características
específicas.
A música, sobretudo a chamada música popular, ocupa
no Brasil um lugar privilegiado na história sociocultural, lugar de mediações,
fusões, encontros de diversas etnias, classes e regiões que formam o nosso
grande mosaico nacional. Além disso, a música tem sido, ao menos em boa parte
do século XX, a tradutora dos nossos dilemas nacionais e veículo de nossas
utopias sociais. Para completar, ela conseguiu, ao menos nos últimos quarenta
anos, atingir um grau de reconhecimento cultural que encontra poucos paralelos
no mundo ocidental. Portanto, arrisco dizer que o Brasil, sem dúvida uma das
grandes usinas sonoras do planeta, é um lugar privilegiado não apenas para
ouvir música, mas também para pensar a música. NAPOLINTANO, Marcos. História e
Música. Belo Horizonte: Autêntica, p. 07, 2002.
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Inserir aspectos
da Geografia na música permite analisar itens relacionados ao estudo das
culturas e das manifestações artísticas em sua dimensão espacial. A Geografia
nas letras musicais pode contribuir para uma nova Geografia cultural e
histórica, ou seja, no sentido de compreender a organização dos lugares, a
respeito dos significados que lugares e paisagens possuem, e ainda das
políticas culturais como forma de gestão territorial.
Neste sentido, a Banda Reflexus não escondia a forte influência africana em seu trabalho, e muitas de suas letras tratavam de algum ponto do continente. Em "Canto para o Senegal" ou mesmo “Madagascar”, a banda fala da geografia onde o país está localizado e algumas características marcantes para quem pretende saber mais sobre o país, como por exemplo: a paisagem natural, a religião, a língua, dialetos e a herança cultural entre uma geração e outra.
[...]os grupos sociais que estão na sua origem, como
os negros e mestiços, passaram a desenvolver estratégias de inserção nesta nova
esfera, ritualizando formas musicais e coreográficas[...] NAPOLINTANO, Marcos.
História e Música. Belo Horizonte: Autêntica, p. 53, 2002.
Demais a mais, não podemos esquecer (como brasileiros) de que o Brasil foi um dos poucos, se não o único a receber africanos de todas as origens para trabalhar como mão de obra escrava até 1850, quando o ministro da Justiça do Império Eusébio de Queirós formulou uma lei tornando crime o tráfico de escravos.
Mesmo na atual contemporaneidade, a herança de séculos de escravidão mantêm determinadas permanências históricas e geográficas no sentido que vivemos numa sociedade étnico/racial desigual, em outras palavras as áreas espaciais ocupadas por estes descendentes de escravos são aquelas que se perpetua a ausência do Estado, isto é, na falta de investimento de infraestrutura e das Políticas Públicas.
Mesmo na atual contemporaneidade, a herança de séculos de escravidão mantêm determinadas permanências históricas e geográficas no sentido que vivemos numa sociedade étnico/racial desigual, em outras palavras as áreas espaciais ocupadas por estes descendentes de escravos são aquelas que se perpetua a ausência do Estado, isto é, na falta de investimento de infraestrutura e das Políticas Públicas.
Clique aqui para acessar as letras.
NAPOLINTANO,
Marcos. História e Música. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
DOZENA,
Alessandro. Geografia e Música: Diálogos. Natal: EDUFRN, 2016.
Ademir Junior: Pesquisador/Mestrando em Psicologia Educacional/Conteudista e Especialista em Educação