quarta-feira, 5 de agosto de 2020

VERBETES DIVERSOS

ACULTURAÇÃO: ato de sujeitar um povo ou amoldar tecnologicamente a um padrão reconhecido como superior. Como fenômeno de controle social de um povo sobre outro proveniente do contato entre diferentes sociedades e pode ocorrer em períodos históricos diferentes, estando sujeito apenas à existência desse contato entre culturas diversas.

 

DISCRIMINAR: é tratar por meio de prática adversa uma pessoa ou grupo de pessoas de forma desigual motivado pela sua raça, idade, cor de pele, sexo, língua, religião, opinião política, origem nacional ou social etc. diferente do preconceito que faz parte da estrutura mental de um indivíduo, a discriminação é a concretização do pensamento em atitudes, comportamentos e ações antagônicas e hostil. 

 

DESMISTIFICAR: ato de produzir a crítica ou denuncia verbal ou escrita visando desiludir um grupo de pessoas ou uma coletividade a respeito de uma opinião ou ainda um conjunto de opiniões, crenças, valores considerados como falsos, preconceituosos, ilusórios e mistificadores (mitificar é fazer acreditar em algo falso, enganoso). É possível compreender que desmitificar é desfazer uma ideia fixada em algo falso fantasioso irreal e inacreditável a luz da verdade.


OLIGARQUIA: O termo vem do grego e significa governo de poucos baseados no patrimônio, no qual os ricos mandam, e que, portanto, a riqueza é a única condição de se manter no poder. A oligarquia, era para Platão em sua obra República, o governo de um pequeno grupo escolhido por sua riqueza, que governaria a partir da hostilidade ávidos por poder e dinheiro, buscando multiplicar sua fortuna à custa do bem comum. Na contemporaneidade, o termo aponta a uma forma de governo de uma elite, ou poder político concentrado num pequeno número pertencente a uma mesma família ou ainda, um sistema social sob controle político de uma pequena elite - o governo oligárquico é também um governo de elite. O termo tem conotação negativa no sentido de conformismo e estrangulação das instâncias democráticas e pela falta de interesse político do bem comum.

 

RACIALISMO:  com a formação dos Estados nacionais europeus aproximadamente no século XVI, deu-se início aos estudos pelos Iluministas que enfatizavam as diferenças linguísticas e histórica de cada Estado/Nação, isto é, o estudo das diferentes raças humanas.  Um dos objetivos, era encontrar um sistema de valores universal, que pudesse ser estabelecido para todas as raças.  Já no século XVIII surgiu outra hipótese racial, a poligenista, que defendia a existência de diversas raças humanas. Ainda no século no século XVIII as diferenças biológicas não eram consideradas definitivas para a evolução humana. Foi na França (séc. XIX) que surgiu através da Antropologia Física as teorias racialistas que definia raça como um grupo humano cujos membros possuíam características físicas comuns. Contudo, está teoria voltou-se para a crença de que a raça não era apenas definida física, mas moralmente, bem como que as diferenças físicas acarretavam diferenças mentais hereditárias compreendendo à divisão do mundo em culturas, e por fim classificando as raças em superiores e inferiores. No século XIX, com o desenvolvimento da teoria evolucionista o conceito de raça migrou para as ciências sociais humanas, ganhou novas perspectivas com o chamado darwinismo social. Fundamentada na teoria da evolução e seleção natural afirmava a diferença das raças, bem como a superioridade de umas sobre as outras e, ainda, a tendência das raças superiores era submeter e substituir as outras. A aplicação prática dessas teorias possibilitou a criação de mecanismos sociais e políticos para reprimir as raças consideradas inferiores. Os pensadores eugenistas compreendiam cada raça tinha sua importância na escala evolutiva, sendo que a raça superior de acordo com a seleção natural para ordenar o mundo era a caucasoide.

 

RACISMO:  conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias e que consiste em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Contudo, o racismo pode ser percebido em nível individual, ou em nível institucional por meio de políticas que podem ser estudadas historicamente como o apartheid, o holocausto, o colonialismo, o imperialismo, dentre outros.



TIRANIA: O termo significa uma forma de governo sob o qual desaparecem todas as leis comuns, e só uma pessoa comanda tendo as leis em suas mãos, ou seja, regime no qual o arbítrio individual ocupa o lugar da lei. Este tipo de governo evita a divisão de poderes, e que concedido a um único soberano age de forma desmedida, ilimitado e incontrolável. Nas democracias contemporâneas, o termo tirania tem conotação negativa considerando uma forma degenerada de governo.

 

XENOFOBIA: proveniente do grego (xenos/xeno/estrangeiro) e (phóbos/fobia/medo) faz referência ao ódio, receio, hostilidade e rejeição em relação aos estrangeiros ou mesmo a comunidade de imigrantes. Neste sentido, etnocêntrico caracterizado pelo nacionalismo, pois gera a desconfiança em relação a pessoas que vêm de fora do seu país com uma língua, cultura, hábito ou religião diferente. Também é frequentemente utilizada em sentido lato como a fobia em relação a grupos étnicos diferentes ou face a pessoas cuja caracterização social, cultural e política se desconhece, ou seja, uma ideologia que consiste na rejeição das identidades culturais que são diferentes da própria. Atualmente, frente ao processo migratório fica perceptível a atitude xenofóbica que não compartilha da solidariedade humana.

 

Referências:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes,  2007.

BOBBIO, Noberto. Dicionário de política. Brasilia. Universidade de Brasília, 1998.

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

GARZA, Cecília de La. Xenofobia. Laboreal [Online], Volume 7 Nº2, 2011. Disponível em: <https://journals.openedition.org/laboreal/7924#ftn1>. Acesso em: 22 jul. 2020.

JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009.





Ademir Junior: Mestre em Psicologia Educacional/Pesquisador em Educação.

ESTRANHOS A NOSSA PORTA (BAUMAN, ZIGMMUND)


O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925 – 2017) legou um importante estudo sobre o fluxo migratório na Europa que se convencionou chamar de crise migratória como uma grande tragédia que se abateu sobre as populações migrantes.

A análise baumaniana identifica as condicionantes psicológicas que abrem um flanco para o ódio, o medo e a rejeição das populações europeias quanto aos migrantes económicos e refugiados de guerras, assim como aborda diversos ângulos das agruras e violações (físicas e psicológicas) a que estão sujeitas as populações migrantes no solo europeu.

Problematiza sobre, o sentimento de ameaça ao bem estar da sociedade europeia sobre  o sonho do mundo idealizado pelo liberalismo, por isso, explica que a fragilidade existencial e a precariedade das condições sociais humanas nos tempos globalizados, insuflada pela competição pelo mercado de trabalho e melhores condições de vida, criam uma profunda incerteza e medo nas sociedades invadidas pelos (estranhos/migrantes), que batem a (nossa porta/países europeus) e a quem se torna mais fácil culpar por todos os males gerados pela conjuntura política e económica da globalização.

De certa forma, Bauman, neste ponto, assemelha-se aos críticos da globalização hegemónica. Neste mesmo sentido está associado as pesquisas de Milton Santos na sua obra (Território, Globalização e Fragmentação) que aponta as mazelas da globalização.

Em primeiro lugar, porque a tragédia migratória tem como causa, em parte, as ações desastradas, mal conduzidas e calamitosas das expedições militares do mundo desenvolvido em países como Afeganistão, Iraque, Síria, entre outros Estados falidos

Essas intervenções, que buscaram substituir muitas vezes Estados ditatoriais, geraram desordem e violência por parte de grupos tribais e sectários, instigados pelo comércio global de armas, que é mantido pela indústria armamentista globalizada em busca de lucros.

Para Bauman, num mundo tomado por Estados (fracos/países de economia pobre), quase submersos em termos políticos, económicos e de proteção aos direitos de suas populações, estimulou- -se uma série de guerras tribais, sectárias e o banditismo.

Num mundo cada vez mais desregulado, desterritorializado e fora de ordem, a chegada dos migrantes provoca estranheza e receios de ordem económico-política, cultural e social nas populações receptoras, assim como medo de que sua segurança física esteja ameaçada.

Para Bauman esse pânico geraria animosidade, estímulo ao abuso e violência para com os migrantes, que já estão em situação de trágica vulnerabilidade

Bauman alerta inclusive para os perigos do oportunismo político, em que os partidos políticos, através das figuras públicas de seus candidatos, e os próprios mediam e ampliam o discurso xenófobo, racista sem precedentes, no intuito de angariar dividendos eleitorais ao promoverem soluções como (muros, cercas, deportações e outros obstáculos).

Enfim, Bauman, responde que o efeito colateral da globalização não está na construção de muros, na deportação maciça de imigrantes ou na criminalização e exclusão dos migrantes, mas encontra-se no diálogo multicultural, no intercâmbio e na compreensão mútua, no respeito recíproco para negociar conjuntamente a superação dos obstáculos.

 

BAUMAN, Zigmmund. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.

SANTOS, Milton; Maria A. SOUZA; SILVEIRA, Maria L. Território, Globalização e Fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1994.

 

Ademir Junior: Mestre em Psicologia Educacional/Pesquisador em Educação.