terça-feira, 1 de setembro de 2020

FINLEY, Moses I. Democracia antiga e moderna.

O historiador Moses I. Finley (1912-1986) foi um importante pesquisador voltado aos estudos de História Antiga Greco-Romana dando um novo olhar para a antiguidade.

Em sua obra clássica “Democracia Antiga e Moderna” aborda e compara os fundamentos da democracia tanto no aspecto clássico quanto contemporâneo tomando como base a democracia que teve sua origem na Grécia antiga – precisamente na Cidade-Estado de Atenas nos séculos V e VI a.C.

O próprio autor menciona que propõe desenvolver um discurso dialético entre as concepções da Grécia antiga e as modernas, dentro dos limites em que é possível discutir-se dois mundos tão radicalmente diferentes.

Um destaque histórico importante, e observado por este autor está no fato que na Grécia Antiga nem todos tinham os mesmos privilégios, uma vez que parte daquela sociedade ficava a margem pelo fato de não serem considerados cidadãos, isto é, não participavam das assembleias.

Por exemplo, eram considerados cidadãos homens livres de pai e mãe ateniense. No grupo dos excluídos da atividade política estavam as mulheres, escravos e estrangeiros.

O autor explica que para se destacar durante a Assembleia, o cidadão ao pedir a palavra, para ter êxito deveria dominar a arte da oratória e retórica (discurso expositivo e argumentação/convencimento) para que os participantes aceitassem a proposta exposta e defendida.

Contudo, o autor explica que demagogos articulados a certos interesses poderiam influenciar os presentes beneficiando um determinado grupo. Finley analisa que o surgimento de facções é considerado um perigo a democracia.

Finley constata uma problematização no berço da democracia Ateniense, pois verificou que na visão de alguns filósofos, dentre eles Platão (defendia que a política deveria ficar na mão de especialistas/políticos profissionais), isto é, para este filósofo à iniciativa popular era desastrosa e que governo do povo, pelo povo e para o povo é uma ingênua ideologia.

De acordo com Finley, em sua República, Platão propôs concentrar o poder nas mãos se uma pequena classe seleta, estudada adequadamente, em outras palavras, especialistas adequados, livre de todos os interesses especiais até mesmo da propriedade privada e família para que levassem o Estado a atingir suas metas apropriadas.

Como contraponto, em relação aos aspectos da democracia ateniense e do mundo contemporâneo, compreende que o fundamento da democracia está na participação direta, sem mediação, pois somente assim o cidadão se percebe inteiramente como um sujeito político.


Na Atenas Clássica, a sociedade e o governo eram considerados uma única instituição, ou seja, era direta pelo fato dos cidadãos terem o direito de decisão, diferente da democracia contemporânea em que os eleitos representam quem eles querem, ou seja, um formato no qual o povo transfere o poder de decisão.

Enfim, essa forma de democracia separa a população do governo que assumi uma condição superior, por isso, Finley ao considerar o modelo contemporâneo compreende que não pode ser chamado de democracia, pois cabe ao Estado ficar afastado das classes ou de outros interesses facciosos. Ao Estado cabe os objetivos devem ser morais, atemporais e universais.


FINLEY, Moses I. Democracia antiga e moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

Ademir Junior: Mestre em Psicologia Educacional/Pesquisador em Educação.