O sociólogo polonês Zygmunt
Bauman (1925 – 2017) legou um importante estudo sobre o fluxo migratório na
Europa que se convencionou chamar de crise migratória como uma grande tragédia
que se abateu sobre as populações migrantes.
A análise baumaniana
identifica as condicionantes psicológicas que abrem um flanco para o ódio, o
medo e a rejeição das populações europeias quanto aos migrantes económicos e
refugiados de guerras, assim como aborda diversos ângulos das agruras e
violações (físicas e psicológicas) a que estão sujeitas as populações migrantes
no solo europeu.
Problematiza sobre, o
sentimento de ameaça ao bem estar da sociedade europeia sobre o sonho do mundo idealizado pelo liberalismo,
por isso, explica que a fragilidade existencial e a precariedade das condições
sociais humanas nos tempos globalizados, insuflada pela competição pelo mercado
de trabalho e melhores condições de vida, criam uma profunda incerteza e medo
nas sociedades invadidas pelos (estranhos/migrantes), que batem a (nossa porta/países
europeus) e a quem se torna mais fácil culpar por todos os males gerados pela
conjuntura política e económica da globalização.
De certa forma, Bauman, neste
ponto, assemelha-se aos críticos da globalização hegemónica. Neste mesmo sentido
está associado as pesquisas de Milton Santos na sua obra (Território,
Globalização e Fragmentação) que aponta as mazelas da globalização.
Em primeiro lugar, porque a
tragédia migratória tem como causa, em parte, as ações desastradas, mal
conduzidas e calamitosas das expedições militares do mundo desenvolvido em
países como Afeganistão, Iraque, Síria, entre outros Estados falidos
Essas intervenções, que
buscaram substituir muitas vezes Estados ditatoriais, geraram desordem e
violência por parte de grupos tribais e sectários, instigados pelo comércio
global de armas, que é mantido pela indústria armamentista globalizada em busca
de lucros.
Para Bauman, num mundo tomado
por Estados (fracos/países de economia pobre), quase submersos em termos
políticos, económicos e de proteção aos direitos de suas populações, estimulou-
-se uma série de guerras tribais, sectárias e o banditismo.
Num mundo cada vez mais
desregulado, desterritorializado e fora de ordem, a chegada dos migrantes
provoca estranheza e receios de ordem económico-política, cultural e social nas
populações receptoras, assim como medo de que sua segurança física esteja
ameaçada.
Para Bauman esse pânico
geraria animosidade, estímulo ao abuso e violência para com os migrantes, que
já estão em situação de trágica vulnerabilidade
Bauman alerta inclusive para
os perigos do oportunismo político, em que os partidos políticos, através das
figuras públicas de seus candidatos, e os próprios mediam e ampliam o discurso xenófobo,
racista sem precedentes, no intuito de angariar dividendos eleitorais ao
promoverem soluções como (muros, cercas, deportações e outros obstáculos).
Enfim, Bauman, responde que o efeito
colateral da globalização não está na construção de muros, na deportação maciça
de imigrantes ou na criminalização e exclusão dos migrantes, mas encontra-se no
diálogo multicultural, no intercâmbio e na compreensão mútua, no respeito
recíproco para negociar conjuntamente a superação dos obstáculos.
BAUMAN, Zigmmund. Estranhos à nossa porta.
Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
SANTOS, Milton; Maria A. SOUZA; SILVEIRA, Maria
L. Território, Globalização e Fragmentação. São Paulo: Hucitec, 1994.