Vozes Inocentes
O filme Vozes Inocentes é baseado em experiências pessoais do
roteirista Oscar Orlando Torres. A guerra civil ocorreu em El
Salvador entre 1980 e 1992 e era comum ver crianças envolvidas nas batalhas.
Durante
este período (1981 e 1982) a guerra assolava El Salvador, o garoto Chava, de 11
anos, vive numa região de fogo cruzado entre guerrilheiros e oficiais.
A
situação se torna mais tensa ainda para Chava, pois, assim que completar 12
anos, provavelmente será obrigado a deixar sua família para empunhar uma
metralhadora no fronte.
Em
relação a história, El Salvador é resultado de uma história de luta e
resistência. Inicialmente foi incorporado à Capitania Geral da Guatemala,
juntamente com alguns outros países da América Central e sua população -
composta por indígenas -, foi dizimada no século XVI.
Já
no século XIX, a Guatemala foi anexada ao Império Mexicano, essa junção durou
poucos anos e suscitou as primeiras tentativas de libertação de El Salvador.
Com a derrocada do Império Mexicano, finalmente El Salvador proclamou sua soberania em 1841. Após a libertação, a disputa interna pelo poder deu-se entre conservadores e liberais; estes - representantes da elite - assumem o governo através de uma oligarquia cafeeira, sendo o café a base econômica do país.
Com a derrocada do Império Mexicano, finalmente El Salvador proclamou sua soberania em 1841. Após a libertação, a disputa interna pelo poder deu-se entre conservadores e liberais; estes - representantes da elite - assumem o governo através de uma oligarquia cafeeira, sendo o café a base econômica do país.
Com
a crise estadunidense de 1929, a oligarquia cafeeira assistiu a queda do preço
do café, o que elevou aquela sociedade ao acirramento das tensões sociais,
levando a população a um levante, reprimida violentamente pelo exército
salvadorenho.
Durante os anos de repressão, comandada pelo general Maximiliano Hernández Martinez, milhares de civis foram mortos. Em 1944 seu governo é então derrotado por um movimento cívico-militar.
Durante os anos de repressão, comandada pelo general Maximiliano Hernández Martinez, milhares de civis foram mortos. Em 1944 seu governo é então derrotado por um movimento cívico-militar.
Quatro
anos mais tarde, surge a figura do tenente coronel Oscar Osório, transformando-se
no homem forte do país, apoiado pelo Partido Revolucionário da Unificação
Democrática (PRDU). Seu governo se caracterizou pelas políticas voltadas ao
desenvolvimento do setor industrial.
Durante
a década de 60, apoiado pelo Partido de Conciliação Nacional, o coronel Júlio
Adalberto Rivera passa a governar o país com forte oposição de partidos de
esquerda, principalmente os democratas cristãos que lutavam por uma abertura
política. No entanto, os militares permaneceram no comando do país até meados
dos anos 80.
Em 1979, João Napoleão Duarte assume a presidência através de um
golpe de estado apoiado por civis e militares. Foi um período de transição que
desembocou na forte presença da guerrilha formada pela FMLN (Frente Farabundo
Marti de Libertação Nacional).
Durante
a guerra civil entre guerrilheiros e o exército salvadorenho - financiado pelo
governo norte-americano e que durou 12 anos -, a economia do país permaneceu
estagnada, milhões foram mortos e outros milhares pediram asilo político.
Durante
a guerra civil, os EUA enviaram mais de 1 milhão de dólares em ajuda militar,
além de militares para aprimorar o treinamento do exército salvadorenho e de
suas crianças. A Guerra Civil durou 12 anos, morreram mais de 75 mil
pessoas.
As
negociações entre o governo e a FMLN começaram durante o mandato do presidente
Duarte e continuaram com o presidente Alfredo Cristiani, eleito em 1989.
Ambas
as partes aceitaram a mediação da Organização das Nações Unidas (ONU), e depois
de um longo tempo de negociações e com o aval da Organização foi firmado um
acordo de paz - Tratado de Chapultepec - em janeiro de 1992, embora o final da
guerra civil só tenha sido anunciado em dezembro do mesmo ano. A FMLN é
atualmente uma referência política da esquerda salvadorenha.
RECRUTAMENTO FORÇADO DE
CRIANÇAS
A
história de Oscar Orlando Torres, que é o roteirista do filme, possui como
objetivo mostrar a violência diária pelo qual passavam as pessoas do povoado de
Cuscatanzingo, em El Salvador, ao longo da década de 80.
A
guerra civil era alimentada pelo conflito agrário que acabou se transformando
num violento confronto entre o exército salvadorenho e os camponeses
organizados no movimento guerrilheiro FMLN (Frente Farabundo Marti de
Libertação Nacional).
Grande
parte dos combatentes, porém, era oriundo do recrutamento forçado de crianças. No
mundo todo, mais de 300 mil crianças têm sido recrutadas em exércitos. Em El
Salvador, os meninos ao completar 12 anos de idade eram levados para servir ao
exército e defender a pátria - lema este lembrado constantemente durante o
recrutamento.
Retirados
da escola, muitos sem conter o choro, encaminhavam-se diretamente para os
campos de treinamento. A grande maioria tinha até menos de 12
anos mas já aprendiam desde cedo, sob o jugo dos olhares ácidos dos soldados, a
levar as armas em punho, exercendo o poder em relação àqueles que morriam por
suas balas, pelos seus gestos treinados, mecânicos. Eram crianças sendo
transformadas em soldados, em pequenos “adultos”.
O
roteirista Oscar Orlando Torres, o (Chava) no filme, dedica o filme aos seus amigos
que foram mortos, ainda crianças, dos quais muitos deles executados pelo
próprio exército salvadorenho.
Ele
(Chava) é o homem da casa, desde que seu pai os abandonou e foi embora para os
EUA. É ele que protege que trabalha para garantir a sobrevivência da família.
PERCEPÇÕES
DO FILME
Vozes
Inocentes é um filme que transita entre o drama, o romance juvenil e a Guerra
Civil. A história de Chava é uma montagem de sua memória, sendo que esta
apresenta uma narrativa no qual o espaço fílmico está repleto de alternâncias.
Na
abertura e encerramento do filme, as cenas mais lentas demonstram a limitação socioeconômica
e cultural da própria história da personagem principal. A lentidão das imagens
mostra que o ponto de partida e chegada é o mesmo: a dor, a morte, o exílio,
expondo as dores, o cansaço e a angústia do pequeno Chava e de seus amigos,
prolongando o tempo e adiar um acontecimento que virá: a morte.
Maiores informações leia o artigo na integra:
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AMARAL,
Ignez Gurgel do. Vozes Inocentes - um olhar sobre El Salvador. Cadernos
PROLAM/USP (ano 5 - vol. 1 - 2006), p. 175-184. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/prolam/article/view/81805. Acesso em: 01 set. de 2019.
Ademir Junior: Mestre em Psicologia Educacional/Pesquisador em Educação.