quarta-feira, 12 de setembro de 2012

OS RETIRANTES: CÂNDIDO PORTINARI



Cândido Portinari artista que utilizou o expressionismo nas suas obras conseguiu retratar o dia a dia do brasileiro comum, procurando denunciar os problemas sociais do nosso país. No quadro Os Retirantes, produzido em 1944, Portinari expõe o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria.
Os retirantes fugiram dos problemas provocados pela seca, pela desnutrição e pelos altos índices de mortalidade infantil no Nordeste. Contribuíram para essa migração a desigualdade social, no Nordeste.

Análise da obra:
Na tela está representado personagens de forma cadavérica, sendo dois homens adultos e duas mulheres adultas. Na composição encontram-se cinco crianças, sendo que em apenas uma delas pode ser identificado o sexo, que neste caso está exposto, deixando a genitália da criança exposta (lado direito da tela).
Há uma criança totalmente nua, e o personagem imediatamente atrás desta mulher também se encontra com seu dorso nu. É um velho, aparentemente o personagem mais idoso na composição. Possui cabelos despenteados e barba, ambos já estão brancos, e segura um cajado. Seu olhar se faz distante.

A mulher que segura a criança, a sustenta pelo lado, apoiando-a seu quadril. Seu olhar distante, também transmite tristeza e solidão, que é marcada pela fragilidade de sua fisionomia. Há um pequeno raio de cor presente na veste desta mulher, que usa uma saia com o tom rosa/avermelhado. Esta mulher, frágil em sua condição social, possui certo vigor físico, maior que seu suposto marido.


Na outra família (centro) percebemos uma mulher mais jovem, com cabelos longos e negros, e olhar triste, cansado e sua face retrata seu sofrimento. Esta mulher está segurando com seu braço esquerdo uma trouxa branca na cabeça que certamente contém roupas. No braço direito uma criança recém-nascida.

Ao seu lado está seu marido, com um chapéu na cabeça, segurando a mão de uma criança que também está usando um chapéu. Com a outra mão o pai das crianças está segurando um pequeno pedaço de pau, com uma trouxa de roupas na sua ponta, que está apoiada sob seu ombro esquerdo.
E ao lado do pai se encontram duas crianças, sendo a da frente do sexo masculino, pois está seminua e sua genitália está à mostra. Esta mesma criança apresenta um abdome bastante avantajado, o que pode ter sido proposital pelo artista ao querer mostrar que no período da produção da obra o país enfrentava sérios problemas com as questões de saneamento básico e tratamento da água, o que fazia com que grande parte da população fosse atingida pela esquistossomose.

No céu há uma grande quantidade de pássaros pretos que foram retratados num céu bastante azul, certamente os pássaros pretos aparecem com a finalidade de retratação da morte, lembrados pela presença dos urubus, a qual mantém uma intima relação com esta ave que sorrateiramente aguarda a hora de se aproveitar daqueles que não resistem mais e morrem.

De certa forma há também uma alusão alegórica à morte no encontro de uma destas aves com o cajado do personagem mais velho da composição, formando a conhecida foice que representa a presença desta que ceifa a vida.
Na linha do horizonte percebemos uma luminosidade presente, diferenciando-se de toda a cena que é predominantemente escura. E ainda no lado superior direito percebemos a lua retratada num tom de cinza escuro, o que a faz quase se confundir com o céu.

No canto inferior esquerdo algumas montanhas bastante distantes, e quatro montinhos de terra. Sob o chão que os personagens estão, podemos perceber que existe uma grande quantidade de pedras e também uma parte de um osso de animal, este osso, pela sua constituição e forma, percebemos que é uma parte de fêmur, osso da perna que sustenta o corpo, está retratado numa cor bastante clara, quase num tom de branco.

Temos um embate entre o sagrado e o profano, o sagrado da família e a morte que se mostra para profanar ainda mais este cenário de sofrimentos. Está representado claramente o ciclo da vida que se inicia com uma criança nesta cena e finda na figura cadavérica do personagem mais idoso da composição.
Portinari ainda menino assistia da janela de sua casa ao vaivém das sofridas famílias que fugiam da seca do Nordeste à procura de trabalho. Eram famílias inteiras em estado de grande pobreza, imagens que marcaram a vida do menino e do pintor.
Sensível, denunciou, através do pincel a degradação de uma parcela significativa de homens e mulheres, brasileiros trabalhadores e sofredores.
Através de sua obra, o artista consegue com uma abrangente visão crítica, fazer um documento visual da nossa realidade. Embora não se restrinja à questão crítica da realidade brasileira, isso já seria o bastante para estar situado entre os artistas de destaque de nosso país.
Os Retirantes (1944) de Portinari assumiram uma feição acentuadamente social na carreira do mestre brasileiro. Não apenas em virtude da Grande Guerra iniciada em 1939, como em face do apelo aos recursos de expressão que caracterizariam em seguida a parte mais notável de sua obra, que nos últimos anos da vida, já não eram apenas quadros sociais, tornando-se soluções de problemas formais.
Através da arte pode-se obter uma síntese sensível da história de um povo. A arte reflete não apenas as emoções do artista, mas a influência do meio social em que vive, evidenciando sempre o momento histórico do homem.

1. Conteúdo factual: Nota-se a presença de nove figuras humanas, sendo duas crianças de colo e mais três crianças maiores. Um velho com um cajado, duas mulheres: uma trouxa na cabeça e uma criança no colo, outra com uma criança no colo. Um homem mais novo também carregando uma trouxa nas costas, um céu escuro, chão seco, urubus sobrevoando.

2. Conteúdo convencional: Os personagens ilustrados por Candido Portinari parecem reais, muito magros, famintos, sedentos de água, de compaixão, de sentimento de solidariedade. Eles estão descalços, não tem uma boa aparência, dando a sensação de estarem sujos. As crianças parecem até deformadas, com barrigas enormes.

3. Conteúdo técnico: Cândido Portinari em sua obra usou aparentemente as seguintes cores: marrom, cinza, azul, preto, branco, ocre, verde, rosa, amarelo e vermelho. Tela pintada por larga e forte pinceladas, usando tinta óleo, tendo a obra à dimensão 190X180cm.

4. Conteúdo estilístico: A obra recebe influência do pintor cubista Picasso e mostra a miséria que atingia e atinge o país.

5. Conteúdo atualizado: Dá para se ver nitidamente o olhar triste destas pessoas pobres, aquele olhar que nos diz que já não existe esperança por uma vida melhor. Em todas as pessoas apresentadas na obra, as partes do corpo à mostra, parecem não ter pele, apenas ossos e músculos provavelmente fracos e frágeis, estando a roupa rasgada não cobrindo todo corpo.

6.  Conteúdo acrescido: Por ser uma obra de 1944, já deve ter passado por alguma restauração. Mesmo assim, fazem parte do estilo do autor essas características explícitas na obra como a tonalidade escura.

7. Conteúdo institucional: A obra Retirantes representa o povo nordestino. Mostra a necessidade que o eles têm de abandonar sua terra em busca de uma vida melhor em outra parte do país. Portinari retrata com exatidão todo o sofrimento do povo brasileiro, pois ele sofria com o sofrimento do seu povo.

8. Conteúdo estético: Tela altamente dramatizante pois trata da miséria de um povo sofrido e esquecido lá do sertão nordestino em sua forma mais triste.


FONTE DE PESQUISA:

ARTE – FONTE DE CONHECIMENTO. Os Retirantes de Cândido Portinari. Disponível em: http://artefontedeconhecimento.blogspot.com.br/2010/11/os-retirantes-candido-portinari.html. Acesso em: 12 set 2012.
ANÁLISE DA OBRA DE ARTE “RETIRANTES” DE PORTINARI. Os Retirantes. Disponível em: http://www.pedagogiaaopedaletra.com/posts/analise-da-obra-de-arte-retirantes-de-portinari/. Acesso em: 12 set 2012.
YOUTUBE. Retirantes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bYsq0mgTcRI. Acesso em 26 jul 2018.