Cândido Portinari artista que utilizou o expressionismo nas suas obras conseguiu
retratar o dia a dia do brasileiro comum, procurando denunciar os problemas
sociais do nosso país. No quadro Os Retirantes, produzido em 1944, Portinari
expõe o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com
expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria.
Os retirantes fugiram dos problemas provocados pela seca, pela
desnutrição e pelos altos índices de mortalidade infantil no Nordeste.
Contribuíram para essa migração a desigualdade social, no Nordeste.
Análise da obra:
Na tela está representado personagens de forma cadavérica, sendo dois
homens adultos e duas mulheres adultas. Na composição encontram-se cinco
crianças, sendo que em apenas uma delas pode ser identificado o sexo, que neste
caso está exposto, deixando a genitália da criança exposta (lado direito da
tela).
Há uma criança totalmente nua, e o personagem imediatamente atrás desta
mulher também se encontra com seu dorso nu. É um velho, aparentemente o
personagem mais idoso na composição. Possui cabelos despenteados e barba, ambos
já estão brancos, e segura um cajado. Seu olhar se faz distante.
A mulher que segura a criança, a sustenta pelo lado, apoiando-a seu
quadril. Seu olhar distante, também transmite tristeza e solidão, que é marcada
pela fragilidade de sua fisionomia. Há um pequeno raio de cor presente na veste
desta mulher, que usa uma saia com o tom rosa/avermelhado. Esta mulher, frágil
em sua condição social, possui certo vigor físico, maior que seu suposto marido.
Na outra família (centro) percebemos uma mulher mais jovem, com cabelos
longos e negros, e olhar triste, cansado e sua face retrata seu sofrimento.
Esta mulher está segurando com seu braço esquerdo uma trouxa branca na cabeça
que certamente contém roupas. No braço direito uma criança recém-nascida.
Ao seu lado está seu marido, com um chapéu na cabeça, segurando a mão de
uma criança que também está usando um chapéu. Com a outra mão o pai das
crianças está segurando um pequeno pedaço de pau, com uma trouxa de roupas na
sua ponta, que está apoiada sob seu ombro esquerdo.
E ao lado do pai se encontram duas crianças, sendo a da frente do sexo
masculino, pois está seminua e sua genitália está à mostra. Esta mesma criança
apresenta um abdome bastante avantajado, o que pode ter sido proposital pelo
artista ao querer mostrar que no período da produção da obra o país enfrentava
sérios problemas com as questões de saneamento básico e tratamento da água, o
que fazia com que grande parte da população fosse atingida pela esquistossomose.
No céu há uma grande quantidade de pássaros pretos que foram retratados
num céu bastante azul, certamente os pássaros pretos aparecem com a finalidade
de retratação da morte, lembrados pela presença dos urubus, a qual mantém uma
intima relação com esta ave que sorrateiramente aguarda a hora de se aproveitar
daqueles que não resistem mais e morrem.
De certa forma há também uma alusão alegórica à morte no encontro de
uma destas aves com o cajado do personagem mais velho da composição, formando a
conhecida foice que representa a presença desta que ceifa a vida.
Na linha do horizonte percebemos uma luminosidade presente,
diferenciando-se de toda a cena que é predominantemente escura. E ainda no lado
superior direito percebemos a lua retratada num tom de cinza escuro, o que a
faz quase se confundir com o céu.
No canto inferior esquerdo algumas montanhas bastante distantes, e
quatro montinhos de terra. Sob o chão que os personagens estão, podemos
perceber que existe uma grande quantidade de pedras e também uma parte de um
osso de animal, este osso, pela sua constituição e forma, percebemos que é uma
parte de fêmur, osso da perna que sustenta o corpo, está retratado numa cor
bastante clara, quase num tom de branco.
Temos um embate entre o sagrado e o profano, o sagrado da família e a
morte que se mostra para profanar ainda mais este cenário de sofrimentos. Está
representado claramente o ciclo da vida que se inicia com uma criança nesta
cena e finda na figura cadavérica do personagem mais idoso da composição.
Portinari ainda menino assistia da janela de sua casa ao vaivém das
sofridas famílias que fugiam da seca do Nordeste à procura de trabalho. Eram
famílias inteiras em estado de grande pobreza, imagens que marcaram a vida do
menino e do pintor.
Sensível, denunciou, através do pincel a degradação de uma parcela
significativa de homens e mulheres, brasileiros trabalhadores e sofredores.
Através de sua obra, o artista consegue com uma abrangente visão crítica,
fazer um documento visual da nossa realidade. Embora não se restrinja à questão
crítica da realidade brasileira, isso já seria o bastante para estar situado
entre os artistas de destaque de nosso país.
Os Retirantes (1944) de Portinari assumiram uma feição acentuadamente
social na carreira do mestre brasileiro. Não apenas em virtude da Grande Guerra
iniciada em 1939, como em face do apelo aos recursos de expressão que
caracterizariam em seguida a parte mais notável de sua obra, que nos últimos
anos da vida, já não eram apenas quadros sociais, tornando-se soluções de
problemas formais.
Através da arte pode-se obter uma síntese sensível da história de um
povo. A arte reflete não apenas as emoções do artista, mas a influência do meio
social em que vive, evidenciando sempre o momento histórico do homem.
1. Conteúdo
factual: Nota-se a presença de nove figuras humanas, sendo duas crianças de colo e mais
três crianças maiores. Um velho com um cajado, duas mulheres: uma trouxa na
cabeça e uma criança no colo, outra com uma criança no colo. Um homem mais novo
também carregando uma trouxa nas costas, um céu escuro, chão seco, urubus
sobrevoando.
2. Conteúdo convencional: Os personagens ilustrados por Candido Portinari parecem reais, muito magros, famintos, sedentos de água, de
compaixão, de sentimento de solidariedade. Eles estão descalços, não tem uma
boa aparência, dando a sensação de estarem sujos. As crianças parecem até
deformadas, com barrigas enormes.
3. Conteúdo técnico: Cândido Portinari em sua obra usou
aparentemente as seguintes cores: marrom, cinza, azul, preto, branco, ocre, verde,
rosa, amarelo e vermelho. Tela pintada por larga e forte pinceladas, usando
tinta óleo, tendo a obra à dimensão 190X180cm.
4. Conteúdo estilístico: A obra recebe influência do pintor cubista
Picasso e mostra a miséria que atingia e atinge o país.
5. Conteúdo atualizado: Dá para se ver nitidamente o olhar triste destas
pessoas pobres, aquele olhar que nos diz que já não existe esperança por uma
vida melhor. Em todas as pessoas apresentadas na obra, as partes do corpo à
mostra, parecem não ter pele, apenas ossos e músculos provavelmente fracos e
frágeis, estando a roupa rasgada não cobrindo todo corpo.
6. Conteúdo acrescido: Por ser uma
obra de 1944, já deve ter passado por alguma restauração. Mesmo assim, fazem
parte do estilo do autor essas características explícitas na obra como a
tonalidade escura.
7. Conteúdo institucional: A
obra Retirantes representa o povo nordestino. Mostra a necessidade que o eles
têm de abandonar sua terra em busca de uma vida melhor em outra parte do país.
Portinari retrata com exatidão todo o sofrimento do povo brasileiro, pois
ele sofria com o sofrimento do seu povo.
8. Conteúdo estético: Tela
altamente dramatizante pois trata da miséria de
um povo sofrido e esquecido lá do sertão nordestino em sua forma mais triste.
FONTE DE
PESQUISA:
ARTE –
FONTE DE CONHECIMENTO. Os Retirantes de Cândido Portinari. Disponível em: http://artefontedeconhecimento.blogspot.com.br/2010/11/os-retirantes-candido-portinari.html.
Acesso em: 12 set 2012.
ANÁLISE
DA OBRA DE ARTE “RETIRANTES” DE PORTINARI. Os Retirantes. Disponível em: http://www.pedagogiaaopedaletra.com/posts/analise-da-obra-de-arte-retirantes-de-portinari/.
Acesso em: 12 set 2012.
YOUTUBE.
Retirantes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bYsq0mgTcRI.
Acesso em 26 jul 2018.