Tenho certeza de que você já se deparou com esse quadro alguma vez. Esta é uma das imagens mais citada no que concerne à história do Brasil. Ela está nos livros didáticos e nas ilustrações de revistas e jornais na ocasião de comemorações referentes ao 7 de Setembro. Com isso adquirimos familiaridade com esta figura dando a ela um “estatuto de verdade”.
Ao olharmos para o quadro, acreditamos que somos testemunhas do episódio que aconteceu em 1822. Não levamos em consideração o que está por detrás deste e de todos os demais quadros: a subjetividade do autor. Todo artista transfere para a sua obra características pessoais, seja na técnica da pintura ou no conteúdo representado. Tais características incluem não só a personalidade do artista, mas também o meio em que ele vive. Assim, um quadro é fruto de diversos fatores que vão além da verdade como “ela realmente aconteceu”.
Pedro Américo compôs um quadro que valorizava a imagem de D. Pedro I como líder da Nação visando contribuir para a estabilização de um império em crise.
Olhemos o quadro: Em segundo plano D. Pedro I levanta a sua espada, em ato simbólico de rompimento com os laços que uniam Portugal e Brasil, seguido por cavaleiros de seu séquito, que saúdam o gesto acenando com chapéus e lenços.
No canto inferior esquerdo vemos um caipira que pára o seu carro de boi para observar a cena histórica que acontece no alto da colina. É essa figura que determina onde nós (observadores) temos que centrar. O caipira representa o povo brasileiro.
D. Pedro é representado num patamar mais elevado do quadro dando a entender que ele é um estadista que não mede esforços e sacrifícios para realização de seu ideal, ou seja, é representado como um herói. Frente a frente com D. Pedro há um cavaleiro da sua Guarda de Honra que responde ao Príncipe arrancando de sua farda o laço vermelho e azul que simbolizava a união de Portugal e Brasil.
Pedro Américo deu grande movimento ao quadro, principalmente ao lado direito que corresponde aos cavaleiros da Guarda expressando um misto de ansiedade e tensão que precedeu à proclamação da independência, assim como o entusiasmo com que foi recebida.
No quadro vemos, portanto, representado o desfecho dramático de um acontecimento histórico, concebido como resultado da bravura de um só homem acompanhado da elite e do exército. O “povo brasileiro” representado pelo caipira simplesmente assistiu a tudo o que estava acontecendo.
O quadro contradiz com o momento em que o Brasil estava vivendo. Na década de 1880, o Imperador doente e esgotado lutava para manter vivo um Império em crise. O quadro veio como uma forma de compensar a realidade que saia do controle, sendo bem-vindo naquele momento como uma busca de revitalização da figura do imperador. Assim podemos dizer que o quadro nos diz muito mais sobre o contexto político e social das últimas décadas do século XIX do que da fidelidade aos eventos que levaram à Independência do Brasil.
Texto baseado no artigo de Claudia Valladão de Mattos com o título: “Independência ou Morte!” de Pedro Américo: reflexões sobre a construção do imaginário da Independência do Brasil no século XIX.
Encontrei essa publicação em outro blog, onde a pesquisa esta mais completa. Sugiro que sigam esse link: http://historiandonanet07.wordpress.com/2011/01/16/%E2%80%9Cindependencia-ou-morte%E2%80%9D-de-pedro-americo/
Dicas:
- DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. São Paulo, USP, 1978 (3 volumes)
- LIMA, Valéria. J.-B Debret, historiador e pintor: a viagem pitoresca e histórica ao Brasil (1816-1839). Campinas, Editora da UNICAMP, 2007.
- OLIVEIRA, Cecília. 7 de Setembro. A Independência do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.